Muitos não conseguem imaginar como é que, antigamente, as pessoas viviam sem celular. Um tempinho das cavernas, aquele, onde a dona Eponina pontificava no mundo das telecomunicações. Aliás, a velha e estimada telefonista sabia de tudo o que estava acontecendo na vida das pessoas, mas era um “túmulo”. Simplesmente trancava o assunto a sete chaves, e não tinha proposta de dar conhecimento aos curiosos o que se passava no seio das dignas e laboriosas famílias sepeenses. Mas voltando à telefonia móvel, alguns me dirão que hoje não precisam do aparelhinho para ir tocando a vida, mas, cá pra nós, quem pensa assim menospreza todo o avanço humano em termos de tecnologia e globalização. Depois dessa incrível invenção, as lonjuras passaram a ser mera interseção entre dois pontos, distância que se percorre com o toque dos dedos. Foi como se as diferenças geográficas existissem apenas nas páginas dos grandes atlas de capa dura.
São vários os motivos para a sua utilização. O principal é a praticidade. Amigos, pais, namoradas, qualquer um pode contatar o usuário da telefonia móvel no momento que desejar, em qualquer lugar que esteja, o mesmo podendo fazer você em relação a eles. Alguns modelos possibilitam o intercâmbio de breves mensagens escritas. Há também os que permitem – suprema prevalência do homem sobre a máquina – conectar-se aos assistentes virtuais como a Alexa. Bota revertério que aconteceu no mundo dos aparelhinhos de telefonia móvel.
Mas tem também o lado ruim da coisa, do modernismo que atrapalha. Pesquisas recentes apontam o celular como a maior causa da separação de casais – bisbilhotagem inoportuna no celular do outro -, além até da sempre alegada “incompatibilidade de gênios”, um argumento frio que nem lordo de pinguim, que o cônjuge metia na petição ao juiz quando não suportava mais a parceria matrimonial. Hoje a causa do divórcio – se foi guampa, ronco, peido surdo, peladura, etc. – nem precisa mais constar no pedido, e até a separação judicial não existe mais, segundo grande parte da doutrina e jurisprudência. É divórcio direto, tipo goela de socó.
Além disso, o celular, por ser pequeno – e cada vez diminuindo mais -, pode ser confundido facilmente com outros objetos. Contam que, tempos atrás, dois portugueses chegaram no médico, ambos com uma das orelhas queimada. Intrigado, o médico pergunta o porquê das duas orelhas queimadas. Um deles explica:
-Fui atender o celular e peguei o ferro de passar roupa.
-Tá bom, mas o seu amigo?
-A ligação era para ele.
Saiu uma matéria, dia desses, dando conta que na Europa a bateria de um celular tinha superaquecido e explodido. A partir dessa notícia, já vi gajo cibernético colocando o celular para carregar dentro da geladeira, no lugar tradicionalmente ocupado pelos ovos e superbonder.
Eu, por exemplo, tomei uma decisão que reputo sábia: vou aposentar o celular. Quero distância do animalzinho tagarela. Cansei de ter que retornar a ligação com quem queria falar comigo. O sujeito ligava e, após breve conversação, desligava o celular sem qualquer cerimônia, sempre com a mesma desculpa:
– Cara, vou ter que desligar, pois a ligação tá cortando.
Aí, eu tinha que ligar novamente para o sujeito e falar que não era a ligação que tava cortando, mas eu é que era gago.
Essa gente desalmada e frígida não tem a mínima sensibilidade e paciência com deficiente diccional!!!
4,607 Visualizações, 1 Hoje