Numa campanha presidencial acontecida há vários decênios, fizeram um churrasco para arregimentar os correligionários do velho PTB de guerra. Era verão, época de esquila. O comício aconteceu no interior de São Sepé, na fazenda do maior líder político da região central do estado. Mais precisamente pros lados do Tupanci, varando com folga o Trancoso. O eleitorado em procissão veio como podia: a pé, de charrete, monareta, em lombo de bicho que tivesse pata e reboque. Seu Guaracy, homem idoso e compenetrado, chegou num Massey Harris com carroção já atulhado de santinhos e mais os filhos Ike, Dedé, Diogo, Roque e Jair, todos eles eleitores do Marechal Teixeira Lott, mais o cachorro ovelheiro Amigo, quieto que nem galo na chuva. Também fazia parte da caravana o Samorin, pai do Adélsio, agregado na Fazenda Santa Águeda, de onde partira a “delegação”.
Carnearam uma ponta de gado bovino e 180 capões Corriedale. Só de porco foram 21, fora dois, que fugiram pro mato e ninguém mais soube informar o paradeiro dos elementos suínos. Abriram um valo com retroescavadeira – coisa perto de 1.500 metros – e derrubaram um costado do mato de eucaliptos para fazer o braseiro, principiado com maçarico.
Cerca de 50 assadores de cada lado da valeta – sem contar a assessoria reiuna e mais a peruada na volta – iam virando os espetos de pitangueira, enquanto uns 35 cuidavam do fogo. Mais afastado, perto duma figueira copada, lidavam desde o romper da madrugada com 10 carreiras de costelão só de novilho pampa de sobreano.
Quatro campeiros, uma dupla à esquerda e outra à direita, corriam a cavalo alcançando à peonada bruta, porém ordeira, e que lidava no calor da fumaça, cachaça da Mata Grande temperada com limão, alho, mel de mirim e pólvora, que era pra levantar o ânimo cívico da gauchada. Ah, e também traziam notícias sobre o andamento do comício, pois quando terminasse as falas iam servir a indiada. Encerraria a trafegagem dos discursos o grande tribuno Rui Ramos, o Mouro do Alegrete e Tordilho do Rio Grande.
Dois capatazes passavam de camioneta supervisionando os trabalhos e recolhendo nuns tonéis de 200 litros só o aperitivo: linguiça cortada à faca, granito malpassado, tripa gorda e bago de touro resfriado da última marcação. Secaram o banheiro do gado e lá prepararam a salmoura. Na hora de salgar, em vez de guanxuma foi requisitada a mangueira do caminhão de bombeiros da cidade. Ao invés de gamela, a carne foi servida em canoas especialmente talhadas em madeira de lei para a efeméride patriota, puxadas a cada três por trator de esteira. Paleteando a “pecuária”, maionese de batata, mandioca gema de ovo e farinha do Formigueiro
Marcou época aquele churrasco!
Tem gente até hoje com azia na maçã do peito por causa da cachaça temperada com aqueles componentes e da carne gorda em quantia, apesar do chá de boldo à disposição da companheirada do velho PTB em baldes de querosene…
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