OS EMPULHADORES

Colunistas Geral

Venho de uma época em que havia em São Sepé os chamados empulhadores. Claro que essa gurizada de hoje, que passa grudada nos celulares e na internet, pode achar de cara que eram vigaristas, uns embusteiros, aplicadores de golpes nas pessoas e no comércio. Nada a ver. O Aciolar, o Borba, o Teófilo, o Baiano velho e outros medonhos eram vinhos de outra pipa. Homens humildes, sim – o Aciolar, por exemplo, vivia do conserto de geladeiras -, mas decentes e honrados, e que tinham essa coisa em comum de empulhar os outros nas conversas, uma espécie de pegadinha com trocadilho, totalmente inofensiva e na mais completa extinção.


A pulha era uma zombaria com ares de maldade graciosa, um raciocínio vicioso, aparentemente correto mas concebido com a intenção de induzir alguém em erro. Uma troça ardilosa, que resultava sempre em risada gostosa. Já ouvi por aí que empulhar é viver, e quem falou isso tem toda razão. Um boteco – o Bar do Circuito, por exemplo, onde só tem homem na volta – é um lugar onde a empulhação é uma necessidade tanto quanto a cachaça com bitter e o pastel de carne frito na hora.


Numa ocasião, ainda no século passado, fui na loja do seu Lino Tronco ver uma monareta, pois pretendia pedir de presente para o pai no Natal. As bicicletas ficavam expostas no andar de cima da loja. No longo balcão, à direita de quem entrava, vi que conversavam animadamente naquele dia o Aciolar, o Borba e o seu Baiano, pai do meu amigo e craque Jorge Américo, e que trabalhava no estabelecimento. Fui me chegando a fim de ouvir mais de perto aquela reunião descontraída, e vi que tentavam empulhar um ao outro. Que momento! Que prosa mais encantadora! Foi pra mim tão inesquecível que até hoje lembro dela, das risadas, dos gestos das mãos espalmadas girando pra trás, como que dizendo: eu fora!
Bueno, a prosa tá boa mas vou indo, atrasado. Ah, já ia esquecendo de perguntar:


Nika: se não sair a pescaria, posso enterrar a minhoca? Estou bem. Não como você, mas gostaria…


Telmo: me desculpe por tudo que te falei aquela noite lá no Bigú, principalmente se te machuquei por dentro. É que eu sou meio cabeçudo!


Turco Gassan: tu sabe fazer vitamina? Se tu sabe, bate uma com mamão pra mim!!!


Por fim, estimado leitor, me tire uma dúvida: você é rico, pobre ou só tá dando pra viver?

O Mário gostava muito de fazer essa pergunta!

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