A anunciação dos tarrãs voejando em cruz

Colunistas Geral São Sepé

Ao primo Érico, que ainda atropela o lagarto
Os tarrãs anunciam lá do alto, voejando em cruz, que o evento hidráulico patrocinado pela Confraria Alfredo Ineu é Nosso Rei está chegadinho a dar cria. Antigos metrossexuais sepeenses, hoje quedados apenas à dobração de cotovelo, liderados pelas mãos timoneiras do Zezé e do Tomate – chama atenção as visíveis vibrações físicas das extremidades dos membros superiores – estarão se reunindo sábado que vem, como de praxe em local deveras sigiloso, para tratar assuntos do mais relevante interesse da humanidade, relacionados com os sinais exteriores da velhice precoce causada pelo contato amiúde com garrafas de tampa e rolhas de garrafão.
Em torno da lauta mesa de profusos líquidos (a janta vai ser churrasco, e churrasco, como é norma da casa, tendo cerveja gelada, nem precisa carne) estão sendo aguardadas presenças ilustres da lida contínua com o vasilhame, tais como Cafuzo, Barbudinho da Cristo Rei, Tinga, Vitamina, Masmorra, Tifum, Rapa, Bunda Amarela, Bazica, Martelinho, Pongo, Nika, Locatário, Pipoca e outros que ainda não confirmaram o freio, ressequidas goelas exponenciais da hidroterapia local e que seguem em franca atividade nas baiucas citadinas e bodegas do interior.
Solitária viatura partirá da Capital pela manhã tomada de forte telurismo, com propósito de transpor com brevidade os umbrais do Santa Bárbara, deixando à esquerda os contrafortes da Cordilheira da Sentinela dos Cerros e, às costas, a venturosa Vila Progresso (onde o velho Quecinho pontificava como Rei Momo), divisando no horizonte fugidio o Postinho e suas imagens campestrais.
Sargento e Guaiaca já mandaram avisar pelas ondas longas da Rádio Cá Te Espero que não poderão comparecer aos festejos, esgrimindo alegação até certo ponto convincente – espesso nevoeiro vindo do além, o que impossibilita o pouso da aeronave pilotada pelo Comandante Ferreirinha.
Durante o convescote vários oradores já se inscreveram para laçar a palavra pela rabadilha.
O jubiloso e vetusto payador Laranjeira, de recuos sazonais, mas que, depois da missa de domingo, após ser regiamente benzido pelo Padre Gerson, desce em passo de ganso a Riachuelo para se benzer de novo no Bar do Circuito, discorrerá sobre a rotação inversa do cérebro quando da ingestão de graspa direta do engradado.
Kekécio, genuíno e loquaz representante do Terceiro Subdistrito, berço e repouso “ad eternum” do atilado guia espiritual Paulo Carvalho, e o amistoso Capitão Suvela, decano da Ordem Maior dos Gambás Convictos, subseção Cerro da Cria, falarão sobre os efeitos da cana de alambique da Mata Grande no oscilante desempenho sexual na melhor idade.
Em sede de encerramento, o circunspecto tribuno sulino Rogério Motta, que atende pelo codinome Seu Motta perante o comércio dos recipientes, após pedir ao garçom a primeira das seis saideiras em homenagem ao saudoso amigo Tati, dará a conhecer aos pósteros o mentor e a extensa co-autoria do sempre lembrado “roubo” das correntes em frente ao Clube do Comércio, delito gravoso ainda pendente de cobertura pelo diáfano manto da prescrição.
Depois, já bem depois de todo o caso passado e mais transcorrido ainda, quando o sábado já for domingo, segunda ou terça-feira, e quando a ação do etanol ordinário tiver desbotado a cor de alguma tatuagem adquirida no furor da mocidade, e a ressaca se confundir com a peladura, aí, bem aí, começarão os arrependimentos e a promessa de nunca mais lidar com as ampolas. Mas não faltará à consciência coletiva dos membros do Clube Recreativo Escola de Samba Lucidez Demais é Bobagem a certeza de que pouco importa judiar do cadáver se só o usamos por empréstimo, com data e hora marcada na folhinha para devolver o equipamento lastimado ao Mestre-de-Cerimônias…

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