“MEU FILHO, OS ANTIGOS VOLTARÃO!”

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Segundo um dicionário bem atualizado que comprei pela internet, saudosista é quem tem uma apreciação exagerada por coisas ou fatos do passado. Diferente de saudade, um sentimento de ausência, segundo o mesmo glossário, um vazio deixado pelo tempo que já se foi, e de difícil preenchimento na cavidade que acomoda o cérebro.
Ainda que ninguém seja um poço inesgotável de bondade, não se pode descrever a saudade, a reverência profunda com que lembramos aquela gente discreta e decente que viveu em São Sepé na época dos nossos pais. Era um período em que o altruísmo sem alarde era bem mais largo e profundo do que agora, talvez pela dimensão física da cidade, mas muito mais provável pelos contornos humanos da alma daqueles que ficamos conhecendo pessoalmente ou pelas estórias contadas por quem teve o privilégio da convivência.
Ninguém tem saudade daquilo que não gostou de ter vivido. Apenas permanece na lembrança o que a gente gostaria de vivenciar novamente. Têm coisas que fizemos questão de esquecer, riscar do mapa, pois não nos trazem agradáveis recordações, mas relembrar pessoas que já morreram e que nos marcaram está muito longe de ser uma nostalgia babosa. É bem mais uma deferência evocativa imposta pela justiça da memória.
Imperioso, pela motivação única do amor solidário, que tornem a habitar os nossos corações os exemplos de pessoas simples, até descuidadas, mas de uma enorme grandeza de caráter, e que partiram antes de nós apenas porque eram bem melhores do que somos.
Evidente que homens e mulheres de valor continuam existindo e sempre existirão por aqui, cruzando conosco as mesmas ruas, as mesmas calçadas. É preciso identifica-los no meio da mediocridade que nos assola, agora explicitada de uma vez por todas no império absoluto das redes sociais. Só assim a nossa cidade ficará mais habitável, sem perder as positivas características do presente, mas conservando o suave aroma do seu passado.
Lendo uma página do escritor vicentino Francisco D’Ávila Flôres, infelizmente pouco conhecido pelas pessoas que gostam de ler o que vale a pena, diz ele que “certa vez, ao cair de uma linda tarde, na qual tudo se reveste da ilusão de um convite à vida, escutei, ao acaso, junto de alguém, numa encosta de morro, uma escrava centenária, de ‘coromilho amarelo’, que falava do passado com sentimento e entusiasmo! E os seus olhos pareciam mais moços, ao relato que fazia dos antigos costumes do seu pago. Discorria sobre a sua música, a sua dança, decantou as fachudaças do seu tempo e citou exemplos dos ‘homens de palavra’! Por fim, enxugando as lágrimas, murmurou baixinho: ‘Meu filho, os antigos voltarão!”
Sim, os antigos voltarão, não mais com a sua presença material, pois se “fueron para la Pampa del Cielo”, mas através de pessoas especiais que possam substituí-los nas suas virtudes e clarear o caminho daqueles que ainda precisam se encontrar.

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