Um caso de suposto maus-tratos em uma clínica geriátrica no município de Formigueiro veio à tona após a morte de Pedro Toniolo, de 74 anos. O idoso residia no Lar Santo Antônio e teria sofrido queimaduras pelos braços e cabeça, além de outras complicações, e faleceu em 10 de janeiro de 2024 na Casa de Saúde, em Santa Maria. Outros casos de mortes suspeitas de idosos também são alvo de investigação na cidade de 4 mil habitantes.
Toniolo foi internado no Lar Santo Antônio em novembro de 2023 por seus filhos, que se revezavam nas visitas semanais. Inicialmente, o morador parecia bem-cuidado. Mas, em dezembro de 2023, ele foi encontrado por um dos filhos em estado de hipoglicemia (baixa taxa de açúcar no sangue), com ferimentos na cabeça e nos braços semelhantes a queimaduras.
Preocupada, a família exigiu que Toniolo fosse levado ao hospital, onde foi diagnosticado com hipoglicemia, pressão baixa e desidratação. A proprietária do Lar Santo Antônio, Débora Simões, sugeriu que ele poderia ter sofrido uma insolação, já que sofria de Alzheimer e, por diversas vezes, se recusava a sair da sombra embaixo de uma árvore na frente da casa
Após a alta hospitalar, o idoso retornou ao lar. Porém, sua saúde voltou a piorar. No início de janeiro de 2024, Toniolo voltou a ser internado com infecção, problemas renais e febre. Devido à gravidade do caso, ele foi levado para a Casa de Saúde, em Santa Maria. No hospital, a equipe de enfermagem considerou seu estado extremamente delicado e acionou a Brigada Militar por suspeita de maus-tratos.
Toniolo ficou três dias internado e faleceu em 10 de janeiro, apresentando sinais de desnutrição e desidratação.
O delegado Antônio Firmino Neto, responsável pela Delegacia de Formigueiro, recebeu um inquérito da Delegacia de Proteção ao Idoso de Santa Maria sobre o caso de Pedro Toniolo. Em 12 de junho, a equipe da DP começou a fiscalizar o Lar Santo Antônio e encontrou condições consideradas pela polícia como “deploráveis: ambiente degradante, mau cheiro, falta de acessibilidade, ausência de médicos e nutricionistas, quartos com janelas quebradas e acesso para animais”.
Sem estrutura
A ação contou com o apoio da prefeitura. Outros lares da cidade também foram alvo de inspeções. Conforme o delegado Firmino Neto, nenhuma delas foi considerada apta para permanecer aberta. Segundo a prefeitura, todos os estabelecimentos que atendem idosos vistoriados terão oportunidade de se adequar às exigências da legislação.
Firmino Neto afirma que a morte do morador do Lar Santo Antônio será investigado por homicídio por dolo eventual e encaminhado ao Poder Judiciário, destacando a necessidade de rigor nas ações para proteger os idosos e garantir condições dignas nas instituições de longa permanência.
Outros casos de maus-tratos estão sendo investigados na cidade, inclusive de mortes. A polícia não divulgou detalhes nem quantos idosos teriam falecido de maneira suspeita.
O prefeito de Formigueiro, Jocélvio Gonçalves Cardoso (MDB), o Xiru, diz que foi instaurado procedimento administrativo para averiguar a situação das empresas que cuidam de idosos no município.
– Demos um prazo para que esses estabelecimentos prestem os devidos esclarecimentos. A prefeitura irá analisar também se o responsável pela vigilância sanitária está orientando e fiscalizando adequadamente, pois é responsabilidade desse departamento realizar esse trabalho. Além disso, convocamos mais um fiscal sanitário, aprovado em concurso público, para auxiliar no atendimento desse departamento no município – informa.
Dona do Lar Santo Antônio garante que prestou toda a assistência a morador
A proprietária do Lar Santo Antônio, Débora Simões, é técnica de enfermagem há 15 anos. Ela relatou à reportagem que era funcionária de um estabelecimento do gênero até decidir abrir o próprio abrigo, há quatro anos, em Formigueiro.
Débora afirma que procurou a prefeitura, obteve o alvará e recebe anualmente visitas do Ministério Público. A proprietária também destaca que os familiares dos idosos internados nunca tiveram restrições para visitar a casa a qualquer hora.
O Santo Antônio abriga 15 idosos. Nenhum deles está acamado, e todos têm alguma capacidade de locomoção. Sobre a estrutura do lar, Débora reconhece que há necessidade de algumas manutenções e melhorias, como rampas, escadas e corrimãos, e que já está em contato com uma arquiteta para realizar as adequações exigidas pela prefeitura.
Em relação ao atendimento médico, o lar depende do hospital local e, para a renovação de receitas, utiliza o posto médico do município. Sobre a falta de nutricionista, ela diz que é um problema geral devido à escassez de profissionais da área no município.
Morte
Sobre a morte de Pedro Toniolo, Débora diz que, por ter Alzheimer, o morador resistia a cumprir determinações dos responsáveis pelo abrigo. O possível caso de insolação do idoso teria sito resultado de sua negativa em sair do local, ao ar livre e em um dia quente de dezembro.
– Ele se negava a sair da sombra. Ele não fazia uso da medicação corretamente, começou a usar depois que veio para o lar, e a família tinha ciência da gravidade do Alzheimer. Quando notei que tinha sofrido a insolação do “mormaço”, levei-o ao hospital. Ao notar que ele não estava se recuperando dias após, retornei ao hospital e ele foi transferido para Santa Maria, onde ficou aos cuidados do filho – conta.
Débora acrescenta que irá esclarecer tudo sobre o caso:
– Estou tranquila. Dei toda a assistência que ele (Toniolo) precisava. Ele estava na sombra, jamais imaginaríamos que causaria algum ferimento, mas prestamos toda assistência. A pele dele era muito clara e acabou acontecendo (a insolação).
POR
RAFAEL MENEZES
rafael.menezes@bei.net.br
Fonte: Diário
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