THEOBALDO E AMÉLIA

Colunistas

Gente mais da antiga conheceu o Theobaldo e a Amélia. Para aqueles que foram privados deste prazer indescritível, digo, de pronto, que não se tratava de nenhum casal de bailarinos argentinos, peritos no tango de regalito, muito menos de uma dupla de cantadores regionais que se apresentava em circos de cavalinho, do tipo Pluminha e Penaredo.


O Theobaldo e a Amélia eram os balneários da moda em São Sepé, verdadeiros clubes campestres, sem joia e muito menos direção pra encher o saco. Frequentados tanto por credores agiotas como por velhacos da última igualha. Por abonados do campo e gente da vila que não tinha nem onde guardar o corpo. Pelas conhecidas cafetinas do pedaço e damas de alta envergadura social. Cada um ocupando, em aparente simbiose de espíritos, o seu canto particular de mato e verde, oferecido, sem cobrança de mensalidade, pela natureza abundante. Na época, não existia ainda o Iguaçu e o Caça e Pesca. E piscina, dava para contar nos dedos quem tinha uma em casa. A primeira que eu vi – acho que fiquei embasbacado para sempre com aquela imagem -, ficava nos fundos do sobrado do Dr. Doralício. Assim, o jeito era se refrescar no tanque de lavar roupa ou, então, pegar as manhosas estradinhas de pó que levavam para a Amélia e o Theobaldo.

Era lá que as pessoas se cumprimentavam, em cada troca de ano. Era lá que as famílias acampavam nas clareiras grandes e os filhos se atiravam do cipó mais alto para a parte mais funda do rio. Era para lá que eu ia, de monareta vermelha, nas tardes calorentas, em busca dos amigos de traquinagem e de uma felicidade que me espiava na primeira curva do arroio. Ah! E para as compras líquidas, estava à disposição da distinta freguesia o bar do Juca Beltrão, que cabia todinho no porta-malas de um Opala, sempre na reserva.


Uma vez, a minha mãe apareceu na Amélia com um roupão longo, atoalhado, amarelo e com flores aplicadas em branco. Um chapéu de aba larga, com pendores mexicanos, acompanhava o roteiro do modelito. A exótica indumentária viera de São Paulo, trazida em primeira mão pela Dona Nadir Neves, proprietária de uma boutique de vanguarda na cidade. Mal comparando, e tirante a cruel diferença de dígitos na conta bancária de cada uma, a Ila era a própria Carmen Mairink Veiga, desfilando toda a sua noblesse pelas cálidas praias de Copacabana.
Se me fosse dado fazer um pedido, um só pedido ao gênio da lâmpada, caso ele viesse dar com os costados por aqui, eu ia implorar que me devolvesse a infância que foi embora com aquelas águas turvas, águas que hoje têm, para mim, um gosto salobro de saudade.

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