O dia 27 de fevereiro de 2024, marca os 50 anos da execução do gaúcho Cilon Cunha Brum, vítima da ditadura militar instaurada no Brasil em março de 1964. Natural de São Sepé – RS, ele residia em São Paulo e veio a Porto Alegre para visitar familiares e conhecer e batizar uma sobrinha que nascera há poucos dias. Em nove de junho de 1971 – aos 25 anos de idade – retorna a São Paulo e remete um bilhete dizendo “vou viajar para fora, depois mando notícias”. Até hoje, familiares nunca receberam tais notícias. Naquela sua estada em Porto Alegre, Cilon contara aos pais e ao irmão que estava vinculado a um grupo político de contestação ao regime ditatorial e que estava na iminência de ser preso pela ditadura militar.
PROCURA
Em 1979, a imprensa nacional revela o movimento ‘Guerrilha do Araguaia’, do qual Cilon tomou parte como militante do PC do B. A partir disso, intensificou-se a sua procura. Porém, nunca se obteve qualquer dado concreto. Procurados os órgãos de segurança, as informações eram vagas: “Cilon está em Cuba”, “mora no Chile”, “foi morto no Chile na mesma época da derrubada do presidente Salvador Allende”, “está muito bem, residindo em Paris, não quer saber da família”.
Até que, conta o irmão Lino Brum Filho, surgiu a informação de que estava paraplégico morando em Paris e queria retornar, mas não tinha condições físicas e financeiras. Foi aí que se descobriu que tais informações eram plantadas por agentes da ditadura para confundir e prejudicar as buscas. Logo em seguida a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) divulgou uma lista com as vítimas do regime. Lá estava o nome de Cilon. Porém, grafado de forma errada.
A CONFISSÃO
A revista Veja de 01 de julho de 2009 relata como foram os detalhes das mortes de Cilon e seu companheiro Antônio Raul Castro: “Curió e seus homens entre eles o militar entrevistado por Veja embarcaram Cilon e Raul em um helicóptero da Força Aérea Brasileira e ordenou aos pilotos que os transportassem até Marabá – GO”.
Instantes depois, Curió disse aos colegas ”É agora!” – levantou mirando seus fuzis nas cabeças dos dois brasileiros que caíram imediatamente sem vida. Outros oficiais que os acompanhavam, levantaram-se e descarregaram suas armas nos dois. Os corpos foram deixados na mata e alguns dias depois outros militares passaram pelo local e notaram que os animais tinham comido quase tudo.
MORTO ESCONDIDO
Com o passar dos anos, as forças armadas assumiram a autoria de sua execução. O reconhecimento da morte de Cilon só ocorreu em dezembro de 1995, com o advento da lei número 9.140, em que consta novamente a grafia de seu nome de forma incorreta. O calvário continuava, foi preciso entrar com uma ação no fórum de Porto Alegre para retificar seu nome e obter, depois de 25 anos, sua certidão de óbito.
Porém, trata-se de uma certidão que foge à norma. Não contém a data do óbito, tampouco a causa mortis.
Registre-se, assim, que o corpo de Cilon nunca foi devolvido à família, nem sepultado. A família o considera, passados 50 anos, um MORTO ESCONDIDO. No cemitério municipal de São Sepé, cidade em que nasceu no dia 3 de fevereiro de 1946, uma lápide no jazigo da família informa: “Esta sepultura aguarda o corpo de Cilon Cunha Brum”.
Cilon faz parte de um grupo de 344 brasileiros, vítimas da ditadura militar, que continuam insepultos.
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