Palavra Afiada – Eduardo Vargas

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Nem meu apoio segura a eleição

 

Nem que eu declare voto a Jair Bolsonaro fará com que ele perca a eleição. Digo isso porque meus apoios sempre levam os candidatos à ruína, mas a margem pró-Bolsonaro é muito grande. Talvez o ponto fora da curva seja São Sepé, onde Fernando Haddad quase venceu o candidato do PSL. Aqui o povo tem virtude e não acaba por ser escravo. E se eu, o Mick Jagger e o Fernando Píffero subíssemos juntos no palanque de Bolsonaro? Nem assim ele perderia. Pelo que as pesquisas apontam, será necessário um fato novo e extraordinário para mudar os rumos da eleição.

Esta vitória tem dois grandes eleitores, ambos na cadeia: o ex-presidente Lula e o esfaqueador de Bolsonaro, Adélio Bispo. O golpe à faca no peito, desferido pelo militante do PSOL, acabou sendo um tiro no pé. Sem habilidade de esconder seu abissal despreparo, o futuro presidente do Brasil usa o ferimento para fugir dos embates públicos e debates. Nada lhe é perguntado, nada responde.

A facada de Adélio Bispo teve três efeitos gigantescos: 1) deu uma mídia espontânea gigantesca a Bolsonaro, compensando seu escasso tempo de televisão; 2) paralisou seu processo de desconstrução nos meios de comunicação, especialmente no horário eleitoral e 3) colocou-o na condição de vítima do ódio.

Lula ajudou ainda mais. Para parte da população, ele é vítima de uma injustiça. Mas para outra parte maior está pagando por seus crimes. Aqui em São Sepé, até vejo aqueles direitosos montado nos caminhonetões gostando desse clima de volta da milicada (pelo voto, desta vez), mas a maioria da população está é cansada de ser feita de boba por parte do PT. Olívio Dutra, líder petista que orgulha o Rio Grande e o País, já havia vaticinado em 2016: o PT tem que levar uma lambada forte mesmo porque errou. Não sabia ele que na lambada do PT, quem dança é a democracia.

O senador eleito Cid Gomes, irmão do presidenciável Ciro, do PDT, não controlou a língua e deu uma chicotada no PT no lançamento de Haddad no Ceará. O prefeito de São Gabriel Rossano Gonçalves foi agredido por ex-petistas que não aceitaram as críticas que ele fez ao ex-presidente Lula. É uma onda nacional. O antipetismo, infelizmente, é o maior sentimento eleitoral de 2018.

Bolsonaro soube explorar a ideia de que o PT estaria a serviço de um presidiário para soltá-lo. Como o processo girou em torno da liderança de Lula até o último momento que a lei permitia, Fernando Haddad foi vendido apenas como um “fantoche”, sem personalidade. Logo ele, o super ministro da Educação que semeou faculdades pelo Brasil, que oportunizou que gente pobre, como a Vivi e a irmã dela, que até os quinze anos moravam para fora, plantando fumo, conseguisse cursar a universidade com bolsas do ProUni e, com isso, mudar o destino de quem a sorte não havia sorrido antes.

A força de Lula, com o apoio desse povão beneficiado nos programas sociais e que nunca foi tão feliz na história recente do Brasil, foi capaz de colocar Haddad no segundo turno, mas agora serve como freio. A rejeição do PT, segundo a pesquisa Ibope divulgada no início da semana, já é maior do que a de Bolsonaro: 47% a 35%. Ele teve até uma chance de fazer uma opção diferente, quando gente do PT lhe propôs lançar Ciro Gomes como presidente e Haddad para vice. Mas ele bateu o pé. O Ibope está informando que ele preferiu perder sozinho do que ganhar acompanhado. E nem o apoio do degas aqui poderia mudar o resultado desta eleição.

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