Último voo para Miami

Colunistas Geral

Nem de vista conheço o Sr. Walter Peracchi Barcellos Neto. Sei apenas que o seu avô era o ex-governador do Estado, Walter Peracchi de Barcellos, e é filho do Coronel da Brigada Militar Itaboraí Pedro Barcelos. Da família, a única pessoa com quem, pessoalmente, travei alguma conversa amistosa, ainda que breve, foi sua filha Renata, que é gestora da 5ª Vara de Família do Foro Central II, em Porto Alegre, onde o meu colega Nilton Tavares da Silva exerce a titularidade faz um tempão. Aliás, foi o Nilton quem me contou mês passado essa história emotiva que eu achei por bem repassá-la para vocês.
Pois o pai da Renata é Comandante da Gol, e há poucos dias realizou o seu último voo internacional, para Miami, nos Estados Unidos, em virtude de estar completando 65 anos de idade. Nessa derradeira e sentimental viagem, fazia parte da tripulação, na condição de copiloto, o seu filho Gustavo Barcellos. Agora, o máximo que o Walter pode fazer – sendo pouco mais velho do que eu – é pilotar aviões cargueiros e fazer voos domésticos. Para fora do país, nem pensar, conforme determinação irrecorrível do órgão que regulamenta a aviação civil em todos os países.
Fiquei imaginando cá comigo, neste inverno que se aproxima com gana e jeito de poucos afagos: e as estrelas, que se tornaram íntimas do comandante nas viagens noite adentro, o que dirão dessa brusca e sentida ausência para sempre? Bem provável que o brilho que delas emana seja ofuscado por lágrimas de tristeza por não terem mais com quem repartir a solidão que emerge de um céu soturnamente melancólico. E o que dizer, então, dos meteoros que cruzavam na frente da cabine de comando como se fossem andarengos celestiais abanando com o resto da cauda para o seu amigo de tantos encontros lá em cima, na passarela endiabrada dos lumes?
Tenho a impressão, Comandante Peracchi, que os milhares de passageiros que foram trabalhar, rever os filhos ou simplesmente se divertir no outro lado do mundo, conduzidos pelas suas mãos, que contabilizaram por volta de doze mil horas de voos só internacionais, em 37 anos de aviação comercial, fazem coro similar àquele tango Volver do Gardel: 65 anos não são nada! E o itinerário amorável traçado pela lua, vagando pelas sombras do firmamento, e os olhos vermelhos de um sol febril, seguirão te buscando e irão te chamar pelas nuvens e arrebóis, até a última decolagem. Até o último pouso…

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