LADRÃO DE BANHO

Colunistas Geral

Essa semana a Churrascaria Santo Antônio, em Porto Alegre, completou 89 anos. Uma mistura de pretensão, sorte e senso de oportunidade deu origem ao primeiro restaurante do gênero no Brasil, que segue em atividade ininterrupta em Porto Alegre. Conversador, o italiano Antonio Aita, então motorneiro da Carris, gabava-se para quem podia do restaurante comandado pela esposa, Conchetta, na Rua Doutor Timóteo. Até que, em 1935, um assessor do então governador Flores da Cunha o procurou atrás de uma indicação. Queria alguém para preparar um churrasco para centenas de pessoas em comemoração aos cem anos da Revolução Farroupilha, no parque da Redenção.

Em vez de recomendar um nome, Antonio dispôs-se a assumir a tarefa. Recrutou os quatro filhos e alguns amigos e comandou o churrasco ao ar livre, inaugurando um evento que se tornaria marca cultural do gaúcho no mundo. Até hoje, informam que aquele churrasco teve furto de carne. O sucesso da ousada empreitada de Aita foi determinante para a mudança no perfil dos restaurantes no Rio Grande do Sul, que incorporaram os assados no cardápio. No imóvel térreo entre os bairros Floresta e Moinhos de Vento, nascia a primeira churrascaria do país.

O Leonel Brizola, quando veio a São Sepé, foi recepcionado por um povaréu na fazenda do doutor Leôncio, no Cerrito do Ouro, e lá festejaram como o velho Flores em 1935, com muita carne distribuída, umas sem autorização dos assadores.

Pois essa semana, também, foi de tempo feio em Porto Alegre. Dentro disso, surgiu uma nova modalidade de crime: o ladrão de banho. Onde fico, quando vou para lá, estão sem luz desde terça-feira. A falta de energia na cidade rebateu nas tais casas de bombas, que puxam água, daí faltou água também. Não tem água nem para lavar o que fede. Vizinhos ficam nas ruas, mendigando banho.

Nas palavras do prefeito da capital, Sebastião Melo, a privatização da CEEE foi prejudicial no quesito atendimento do serviço. Ele próprio tentou, sem sucesso, ligar para a companhia buscando informações. Postou tudo no Twitter, pra fazer aquele velho bafão de rede social. Até Eduardo Leite já considera razoável rever a concessão da distribuição da energia elétrica.

Roubar carne em churrascada e dar zebra na privatização da luz era possível de imaginar. O que não o degas aqui não sabia era que em tempos catastróficos há crimes consentidos. Meu vizinho tem uma chave lá de casa, para emergências. Está sempre fumando charuto na sacada da rua de trás, exalando cheiro de carne gorda da camiseta mal cheirosa que utiliza todo dia como garçom da histórica Churrascaria Santo Antônio. Na investigação que fiz, pelas marcas de pés sujos do box, ele está me roubando banho nestes últimos dias. É um crime consentido, e necessário. Não há pena maior do que apresentar-se deselegante na churrascaria que inaugurou uma referência na cultura gaúcha. Só quero saber se depois que voltar a luz ele nos traz uma picanha assada para agradecer.

Compartilhe

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *