Carlos Sperotto: um legado além do campo

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A lembrança despertada pelo nome de Carlos Rivaci Sperotto, para qualquer pessoa que tenha acompanhado a cena institucional do Rio Grande do Sul nos últimos vinte anos, sempre estará associada ao nome da Farsul. A simbiose entre seu nome e a entidade que dirigiu, fazendo dela a mais importante federação rural do Brasil, era tamanha que, mesmo doente, não deixou de acompanhar atentamente o cotidiano da entidade, exercendo suas responsabilidades até o fim, mesmo com severos limites. Mas quem teve o privilégio de, como eu, desfrutar de seu convívio e amizade ao longo de muitos anos, sabe que seu legado se estende para muito além da própria entidade que dirigiu, e à qual dedicou-se com totalidade e abnegação.

Mais do que um representante classista do campo, da categoria patronal, Sperotto expandiu seu foco de ação para além da mera ação sindical e assumiu bandeiras que interessavam a todos:  o fortalecimento das instituições, o primado da lei sobre o arbítrio dos governos, a democracia representativa, e o direito à propriedade – que, atacado por maus intérpretes da Carta Magna como uma concessão à burguesia, é antes de tudo um direito para todos. O direito de usufruir do que conquistou de forma honesta, sem ser alvo da cobiça de terceiros, por inveja, ou do Estado, em nome de outros interesses inconfessáveis. O Sperotto que chamou a atenção do cenário nacional com sua voz grave, sua presença imponente e sua clareza aguda de idéias, era antes de tudo um legalista – e por isso mesmo, fará muita falta a um Brasil acostumado a aventureiros e justiceiros que pretendem suplantar a lei sempre alegando motivos falsamente nobres.

Boa parte da mídia nacional passou a atentar para Sperotto nos meados de 2003, no início do primeiro mandato do então presidente Lula, que escudado na grande popularidade dos primeiros dias, desapropriou uma gigantesca área em São Gabriel, onde pretendia erguer “o maior assentamento agrário do mundo”. O STF não tardou em reconhecer a ilegalidade da desapropriação por uma série de irregularidades na vistoria, e um confronto de grandes proporções se estabeleceu: MST e aliados contra os produtores, com Sperotto á frente. Foi nesta época que assumi a presidência do Sindicato Rural de São Gabriel pela primeira vez, e o Brasil ficou conhecendo o Sperotto aguerrido, sem medo do conflito, mas que também sabia ser conciliador e diplomático. Terror dos entrevistadores despreparados ou ideologicamente mal-intencionados, costumava triturar sofismas de repórteres sem perdão.

Na era Sperotto, a Farsul aprimorou seus serviços, expandindo os cursos profissionalizantes do Senar e criando a Casa Rural, instrumento para baratear insumos ao produtor.  Criou, como presidente do Sebrae, a Universidade Sebrae de Negócios, estabelecendo programas como o “Juntos para Competir” e parcerias com prefeituras para o surgimento de mais empregos através das pequenas empresas.

De todas as facetas de Sperotto, nos fará mais falta o amigo, o pai de família, o avô amoroso e o criador apaixonado. O Rio Grande e o Brasil, se ressentirão sem dúvida da ausência do Sperotto realizador, líder experiente e patriota.  A maior pobreza de um país, não é a de riquezas econômicas, mas de talentos e lideranças. Sua partida, neste sentido, nos deixa mais pobres. E sua ausência física nos incumbe o dever de cantar suas grandezas.

 

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