A CANTORA

Colunistas Geral

Não estou bem lembrado se já contei esta história para o meu reduzido – porém seleto e digno – grupo de leitores deste querido jornal A Palavra, fundado pelo meu saudoso tio Bidico no demasiado distante ano de 1950. Se não contei, conto de novo só pelo prazer da dança o fato sucedido. Era um tempo de inflação medonha, balizada por sucessivos indexadores. O dinheiro que dormia embaixo do colchão de mola acordava sempre com menos preço na etiqueta. Pois um tradicionalista (coautor, diga-se de passagem, do mantra bagual-etílico Vomitô Tá Novo), ao ser elevado à condição de chefe geral de simpático CTG fincado em município lindeiro ao nosso, resolveu promover um baile para comemorar a data de tão sublime distinção. Foram convidadas, como forma de garantir o sucesso da efeméride, delegações campeiras de Santa Maria, Caçapava do Sul e Canguçu, além de ser contratado um conjunto renomado, de serigote chapeado. Desses em que os artistas no palco mais lembram cobra matada pela cola tal é o tamanho do corcovo.
Durante o transcurso do saracoteio, e devidamente empossado pelo altaneiro e conspícuo representante da décima terceira região tradicionalista, nosso herói, bastante emocionado, e já com a “água pelo toso”, agradeceu a presença de todos e pediu, ao ensarilhar o verbo, um repique de palmas para os visitantes santa-marianos, caçapavenses e, especialmente, cangussuínos. Aproveitou ainda para informar aos transeuntes que, na semana entrante, iria gesticular junto ao intendente a aquisição de um veículo destinado à invernada artística. Estava pensando em comprar uma camioneta com dois lances, ou cabine-dupla, como dizem os bacana da cidade, das fortes que nem arroto de corvo.
Depois de despejar uma caçambada de bobageira no lombo dos convivas, o bacudo deu a festa por encerrada. Bailarinos em retirada, borrachos babando nos esteios do salão que nem terneirada com aftosa, e moças airosas se fazendo de égua velha pra comer milho socado.Chega a hora ingrata de se pagar os músicos. Trava-se um rápido diálogo entre o dono da banda gaudéria e o indigitado patrão, tão estufado de canha e salame que mais parecia ter comido pastel de carne de capincho temperada com mio-mio e ovo de avestruz. Aliás, a tal conversação, pela sua importância no aprimoramento da genética da raça humana e dos estudos da língua portuguesa, está registrada nos anais históricos do Movimento Tradicionalista Gaúcho, no tomo 5, página 235.

  • – O preço que a gente acertou com o senhor foi de mil e quinhentos, mais a janta. Acontece, entretanto, que fomos forçados a incluir mais a BTN. Sabe como é, aumento do preço do feijão miúdo na Bolsa de Cotações da Colônia da Aroeira, a crise causada pelo fechamento do alambique do Alfredo Ineu, demora em botar a mão no queixinho felpudo do Bin Laden e talicoisa e coisailosa.
  • – Bueno, tá tudo la jóia, compreendes, mas eu pago somente os mil e quinhentos, a chepa e, bem conversadinho, a canjibrina que vocês mandaram sem pena e trena pro porão. A dona BTN o conjunto trouxe porque quis e ela tá fora do brique. Por sinal, eu até nem vi essa cantora abri o peito…!!!

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